23 de maio de 2013

Stan Brakhage: da mitologia, poesia e música à expressividade, lirismo e não-linearidade

Com a ambição de ser poeta, mas se tornando um dos maiores diretores do Expressionismo no século XX, o americano James Stanley Brakhage descobriu que fazer filmes poderia ser uma arte tanto quanto fazer poesias. Sua primeira obra foi Interim, de 1952, sendo altamente influenciada pelos filmes de Jean Cocteau e pelo neorrealismo italiano. Nascido em 14 janeiro de 1933 e falecido 09 de março de 2003, o cineasta, também conhecido como Stan Brakhage, nasceu em Kansas City (EUA) e foi criado em Denver, no Colorado. 


Stan durante o processo de colagem de seus filmes
O cineasta representa seus filmes de formas não-narrativas, imprimindo a subjetividade sobre um mundo irredutível à ela. Utilizando o cinema abstrato, Stan filmou nos anos 70 a trilogia de Pittsburgh, desejando mostrar três instituições da cidade, sendo elas o hospital, a delegacia e o necrotério. Entre seus filmes mais famosos estão, The Act of Seeing with One’s Own Eyes , Window Water Baby e Dog Star Man. Sem poder se esquecer de que o diretor também escreveu livros, tais como Metaphors on Vision (1963) e Telling Time: Essays of a Visionary Filmmaker (2003).

Na maior parte de seus filmes, Stan trabalhava com películas 8mm ou 16mm, mas também as pintava à mão, e algumas vezes utilizava a técnica da colagem. Um exemplo é Mothlight (1963), em que ele cola asas de insetos, folhas e ramos diretamente na película.

Pode-se considerar o Expressionismo como uma experiência de um lugar onde o sujeito não mais se reconhece, em que as imagens distorcidas e a falta de realidade são os principais pontos visíveis. Filmes sem trilha sonora e som são os pontos fortes de Stan Brakhage. O filme The Act Seeing with One’s Own Eyes, contém cenas fortes e confusas, que demonstram bem essas características. O cineasta mostra rituais trágicos nos quais as pessoas que escalpelam os corpos usam máscaras e ritos de exorcismo, porém não se tratando exatamente da carne humana, há como distinguir apenas volumes e texturas.

O mesmo acontece com o filme Window Water Baby, onde faz ao espectador aceitar estar vendo uma celebração familiar na hora do parto. Mas não se vê os corpos dos pais, apenas rostos e sombras e algumas partes repetidas com muita atenção às luzes.

Suas obras intensificam a alienação do ser humano no mundo moderno, no qual ele não consegue se ver refletido nas obras que cria. A textura da imagem pode-se identificar com o romantismo, implicando a concepção do homem irredutível ao mundo.

No ano de 1996, Brakhage foi diagnosticado com câncer de bexiga, o qual foi removido. A cirurgia parecia ter sido um sucesso, mas o câncer acabou se alastrando. Seis anos depois ele se aposentou e mudou-se para o Canadá com seus dois filhos e sua esposa. Brakhage morreu em 9 de março de 2003, com 70 anos. Seu último filme foi Work in Progress.



Produção: Expressio Motus Produções
Texto: Karen Okuyama
Edição: Rafaela Bez
Imagens: Divulgação

22 de maio de 2013

Das belas artes ao sistema econômico: o consumo e o capitalismo no cinema


Atualmente, o modelo de economia dominante é o capitalismo, que surgiu no século XIX denominado como liberalismo. Esses modelos econômicos visam o lucro, a obtenção da propriedade privada e dos meios de produção e, segundo Karl Marx, a divisão de classes. Atrelado a este sistema está o consumo, maneira pela qual o ser humano disfruta de suas necessidades, sendo elas básicas ou desejáveis.

Guevara e seu irmão Raul, na guerrilha
No cinema, o capitalismo e o consumo são muito discutidos, seja como modo de crítica ou como produto mercadológico, que induz ao consumismo e a obtenção de produtos.

O filme Margin Call – O Dia Antes do Fim (2011), de J. C. Chandor, retrata o capitalismo partindo do princípio da crítica e reflexão sobre os problemas causados pelo modelo econômico. A trama se inicia com a demissão em massa em um banco de investimentos, focando no chefe responsável pela gestão de riscos, Eric Dale (Stanley Tucci), que se preocupa com um estudo que planejou sobre as ações irregulares da empresa. As análises são repassadas para o jovem Peter Sullivan (Zachary Quinton), engenheiro especialista em propulsão, mas que atua no mercado financeiro. O filme busca retratar, por meio da ficção, momentos críticos pelos quais passaram as instituições financeiras norte-americanas durante a crise de 2008.




O economista, integrante do Instituto Humanitas Unisinos (IHU) e membro do corpo docente da Universidade Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS), Gilberto Faggion ressalta a maneira na qual o capitalismo e o consumo são retratados no cinema. “Em filmes que o capitalismo e o consumo são abordados de maneira crítica, podemos analisar os aspectos técnicos do mesmo. Em filmes como Margin Call (J. C. Chandor – 2011) e Inside Job (Charles Ferguson – 2010), as decisões e debates feitos sobre o tema, geralmente são feitos em ambientes escuros, tenebrosos e sombrios, que de maneira objetivada ou não induz à ideia de que a ação retrata o momento em que o atual modelo vive: de crise e decadência”, diz.

O capitalismo também pode ser abordado de maneira contrária, ou seja, pode ser representado pelo lado oposto, como as lutas sociais por igualdade e justiça e mostrando sistemas econômicos contrários como o comunismo e o socialismo. Um filme que representa esta maneira de abordagem é o filme Che (2008), do diretor Steven Soderbergh, que conta a história de um jovem médico, Ernesto "Che" Guevara (Benicio Del Toro), e seu irmão Raul (Rodrigo Santoro). Guevara era argentino e tinha como objetivo ajudar a derrubar o governo ditador de Fulgêncio Batista em Cuba. Ele se integrou à guerrilha, participando da luta armada pela igualdade e justiça entre os povos.





Sociólogo graduado pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), Jonas Jorge da Silva lembra a maneira como os espectadores absorvem o tema capitalismo e consumo nos filmes e em outras abordagens midiáticas. “A concepção do ser humano através desse tipo de tema é redundante. Da mesma maneira que ele absorve a crítica e define que o consumo exacerbado o prejudica, ele também absorve a indução de produtos retratados pelo cinema, consumindo-os, muitas vezes”. De acordo com a análise social de Silva, o espectador pode adquirir consigo tanto a crítica como a persuasão do tema.

Produção: Expressio Motus Produções
Texto: Rafaela Bez
Edição: Rodolfo Kovalski
Imagens: Divulgação

17 de maio de 2013

O Expressionismo Alemão de Tim Burton

O Expressionismo Alemão da década de 20 é caracterizado pelo jogo de sombras e luzes, outra característica marcante é o exagero das características dos personagens, com muitos detalhes. Um exemplo é do famoso filme Nosferatu (1922), onde o personagem tinha suas mãos desproporcionais como uma expressão forte de exagero de características. Raphael Bittencourt, professor de Direção de Fotografia no curso de Cinema do Centro Europeu, explica que a luz no Expressionismo Alemão é usada com um elemento de composição, criando atmosfera e profundidade. “As formas exageradas e distorcidas eram ainda mais enfatizadas pelo uso de eixos de luz tão exagerados quanto elas, isso tudo visto por câmeras geralmente paras, mas posicionadas em ângulos diversos e inesperados”, afirma. 


As características do movimento são encontradas em diversos filmes de terror, onde podemos citar a Bruxa de Blair (1999) e até mesmo na trilogia “O Grito” (2002, 2006 e 2009).

Johnny Depp faz a voz de Victor e Helena Carter a voz da noiva
Mas quando se fala em Expressionismo é impossível não pensar em Tim Burton. O diretor carrega em todos os seus filmes traços específicos do movimento. É fácil lembrar do filme Edward Mãos de Tesoura (1990) ou então dos grandes detalhes das feições dos personagens de Sombras da Noite (2012). Mas são nas animações de Tim Burton que o Expressionismo fica evidenciado. Em seu primeiro curta-metragem, Vincent (1982), Burton deixou a sua marca. “Nesta animação, todas as características que serão desenvolvidas com o decorrer da filmografia de Burton já aparecem: a fotografia é extremamente contrastada, os ambientes são claustrofóbicos e macabros, a maquiagem e o figurino ajudam a compor a visão do personagem. O garoto que protagoniza o filme atua de maneira reservada, ou seja, mínima. O diretor opta por uma maior expressividade interior, criando uma aura característica.”, afirma Lucas Murari, em sua tese sobre “O Expressionismo Alemão e suas múltiplas derivações americanas” para a Faculdade de Artes do Paraná (FAP). 

As características usadas em Vincent voltam a aparecer em O Estranho Mundo de Jack (1993), A Noiva Cadáver (2005) e em seu último trabalho, Frankenweenie (2012) que é um remake do filme feito em 1984. Os detalhes dos personagens, a iluminação, a maquiagem e o clima fúnebre que o diretor utiliza, já são características marcantes de Tim Burton. Outra característica do diretor é na escolha dos atores para os seus personagens, Johnny Depp já trabalhou como personagem principal de oito filmes de Tim Burton e Helena Bonham Carter, que além de ser esposa de Tim Burton, já trabalhou em seis filmes do diretor.




Produção: Expressio Motus Produções
Texto: Leticia Duarte
Edição: Rafaela Bez
Imagens: Divulgação 

9 de maio de 2013

O Expressionismo Alemão

Nascido na década de 1920, na Alemanha pós-guerra como forma de representação da época, o expressionismo alemão surge com temas obscuros, suspense, sentimentos pouco lapidados, sentimentos corrosivos como a angustia, o pessimismo, a revolta, além do marcante não realismo, presente em todas as obras que veio como uma assinatura do movimento. Uma fusão do pessimismo causado pelo primeiro pós-guerra (Alemanha devastada), e a literatura fantástica, tradicionalmente alemã.


"O Gabinete do Dr. Caligari" (Robert Wiene - 1920), é o filme mais famoso da escola
Clássicos

Embora usem elementos fantásticos, em cenários surrealistas (como perspectivas distorcidas, ângulos inusitados, movimentos desarticulados e falta de realidade), é notável a busca do cinema “realista”, uma representação artística (ao mesmo tempo exagerada e delicada) da situação da Europa. Muito mais que uma escola cinematográfica, o Expressionismo Alemão surge como uma forma de representação.

Pode-se citar Robert Wiene, Fritz Lang, F. W. Murnau e Paul Leni como uns dos principais diretores do gênero.

Características

Não é tarefa simples limitar a o cinema Expressionista e criar características em cima disso, uma vez que no Expressionismo Alemão não se segue padrões estéticos, mas o que pode-se colocar é que o cinema expressionista, muito tem a ver com a pintura. Como as deformações em imagens concretas, cores vibrantes, “falta” de técnica, pinceladas fortes, como explosões, preferência pelo patético e pelo sombrio.


"Nosferatu" de 1922 do diretor F. W. Murnau também foi outro grande sucesso

Produção: Expressio Motus Produções
Texto: Harianna Stukio
Edição: Rafaela Bez
Imagens: Divulgação

3 de maio de 2013

Aly Muritiba, levando o cinema curitibano para Cannes

O Festival de Cannes, criado em 1946, está na sua 66ª edição. Durante o evento, há uma importante mostra paralela, a Semana de Critica, que neste ano acontecerá entre os dias 16 a 24 de maio e está na sua 52ª edição.  Neste ano, o Brasil está sendo representado no Festival pelo diretor Aly Muritiba, com o documentário “Pátio”.

O sucesso do diretor, baiano, que mora em Curitiba (PR), não vem de agora. O produtor, diretor e roteirista começou o seu auge com o curta-metragem “A Fábrica” (2011), o qual ganhou diversos prêmios nacionalmente e internacionalmente. Após esse auge, Muritiba fez seu primeiro longa-metragem, em parceria com outros quatro diretores, dando o nome de “Circular” (2011) que também ganhou vários prêmios e participou de diversos festivais.


O documentário “Pátio”, de Muritiba, foi selecionado para a 52ª Semana de Critica do Festival de Cannes. O documentário é a única produção da América Latina entre os escolhidos e competiu com 1.724 inscritos. 
No Pátio joga-se bola, capoeira e fala-se de liberdade.

Quando perguntado sobre como essa nomeação pode melhorar para o cinema curitibano, Aly Muritiba afirma que o acontecimento pode melhorar a “auto estima local”, dizendo ainda que Curitiba faz cinema bom e de qualidade. “Curitiba sempre esteve um pouco fora do mapa cinematográfico nacional, mas aos poucos vamos mostrando não só para o Brasil, mas para o mundo, que nós produzimos filmes de alta qualidade”.

O diretor ainda atenta para o fato de que gestores públicos e empresários devam cuidar e investir mais no cinema local. “Eles estão perdendo uma chance enorme de ter as marcas de suas empresas e/ou instituições espalhadas pelo mundo”, acrescenta.

“Pátio”, como cita o nome, se passa no pátio de uma prisão. O produtor conta que para a produção do documentário deixou a câmera no mesmo ponto de visão por três semanas. “Pátio é um documentário muito simples, sobre o único momento de liberdade que os presos têm numa prisão”, diz. O curta, que tem 15 minutos, é o segundo da Trilogia do Cárcere, o primeiro foi A Fábrica.  

O documentário já ganhou o prêmio de Melhor curta-metragem e Prêmio aquisição Canal Brasil do É tudo verdade 2013– Festival Internacional de Documentário. 


Produção: Expressio Motus Produções
Texto: Leticia Duarte
E
dição: Rafaela BezImagens: Divulgação 

2 de maio de 2013

"Depois de Maio"

Diretor muito benquisto pela crítica e pelo público dos principais festivais de cinema da Europa e da América do Norte, o francês Olivier Assayas entrega em abril de 2013 a obra cinematográfica "Depois de Maio" (Aprés Mai), retomando a temática apresentada em seu primeiro trabalho, "Água Fria" (1994), abordando as revoluções culturais e políticas intensamente procuradas e buscadas pela juventude estudantil francesa na década de 70.


A história se passa em Paris no ano de 1971 e relata à trajetória do ajudante de pintor Gilles e seus amigos, Alain, Jean-Pierre e Christine. Os quatro possuem envolvimento com a política estudantil, disseminando ideias revolucionárias e anarquistas, mas precisam se afastar da cidade onde vivem, iniciando uma jornada ao mesmo tempo coletiva e individual em busca de conhecimento, de ideias, de inspirações e de aprendizados.

 
Depois de Maio é o primeiro filme do ator Clément Métayer
Principal personagem da trama, Gilles é um jovem que amadurecerá sutilmente ao longo dos 122 minutos de filme. Ele é apaixonado pelo cinema, forma de arte utilizada na obra de Assayas para calorosos debates entre os movimentos esquerdistas, que caracterizam "a sétima arte" como um recurso de manipulação burguês, rechaçando essa linguagem, pois ela seria usada pelo "inimigo" como forma de divulgação de ideias contra o seu movimento. 


A obra também pode ser considerada autobiográfica, uma vez que em sua juventude Assayas também se engajava na política estudantil e, assim como o protagonista, foi criado com um pai roteirista de televisão.

A dupla François-Renaud Labarthe e Eric Gautier, de "Na Natureza Selvagem" (2007), é responsável pela reconstrução da época e pela fotografia do filme, auxiliando na estrutura solta e sem arcos de personagens, diferente de uma trama convencional. Cenas de nudez que valorizam a proximidade das pessoas ajudam a mostrar o caráter sensível e libertário que o filme quer passar. Não há um aprofundamento na vida pessoal dos personagens, mas sim em suas buscas por identidade, passando por relacionamentos afetivos, mudanças de amizades e de ideologia. A ideia não é mostrar o resultado final deste processo, mas como ele é conduzido pelos envolvidos.

"Depois de Maio" é, em sua essência, uma grande viagem pelo desejo de experimentar sensações e emoções novas, sentimentos bastante valorizados na juventude. A política e o papel do jovem como vetor das mudanças sociais são utilizados como plano de fundo para uma trama que quer deixar claro que saber o que cada um quer ser ou se tornar em sua vida não garante saber todas a etapas deste processo. No final, os desvios encontrados no caminho para esse descobrimento acabam por ser o melhor aprendizado.





Estréia: 26 de abril de 2013 (2h 2mim)
Direção: Oliver Assayas
Participação: Clément Métayer, Lola Creton, Félix Armand
Gênero: Drama
Nacionalidade: França

Produção: Expressio Motus Produções
Texto: Marcos Garcia
Edição: Rafaela Bez e Rodolfo Kovalski
Imagens: Divulgação