28 de fevereiro de 2013

Tarantino faz "Django Livre" superar expectativas

Responsável por clássicos cult dos anos 90 como "Pulp Fiction (1994)" e "Cães de Aluguel (1992)", o diretor Quentin Tarantino voltou a agradar fãs e gerar críticas e elogios com sua mais nova obra, "Django Livre (2012)" utilizando um de seus recursos mais peculiares: A violência gratuita. Porém, a forma como o diretor de 49 anos coloca este artifício em suas produções é que o mais surpreende e faz retomar a discussão sobre como o cinema pode influenciar o espectador, principalmente quando o assunto abordado é a violência como forma de vingança, o que para alguns críticos acaba valorizando o ato e pode se refletir negativamente na sociedade. Em "Django Livre" a violência "Tarantinesca" é novamente utilizada de uma forma perfeitamente exagerada, dando maior intensidade a busca por vingança de seu personagem principal em relação aos homens que o separaram de sua esposa. 

O longa, que deu ao diretor o Oscar de melhor roteiro original e a Christoph Waltz o de melhor ator coadjuvante, usa não só a violência, mas também o humor negro para tratar de um tema extremamente delicado, principalmente no sul dos Estados Unidos: A escravidão. Criticado por ninguém menos que Spike Lee, que considerou a obra um desrespeito as tradições afro-americanas e a este período ao qual chamou de "Holocausto", o filme é defendido por seu diretor, que considera importante debater assuntos como esse em um trabalho cinematográfico, ainda mais em um país que, segundo Quentin, costuma evitar o tema. Para ele, "Django Livre" não pode ser mais surrealista, vergonhoso e espantoso do que aconteceu na realidade.

A violência utilizada como recurso para a criação de um filme não é apenas característica de Tarantino e possui uma função muito maior do que simplesmente entreter o espectador. Colocada nas produções de uma forma diferenciada graças a visão de cada diretor, ela ajuda a despertar uma reflexão sobre a sociedade e seus valores, podendo modificar visões de mundo. A ideia aqui não é fazer com que as pessoas se tornem mais ou menos violentas por acompanharem ou preferirem filmes com essa temática, mas sim mudar a forma como elas tratam e observam o assunto. Marden Macedo, autor do blog Cinemarden e participante dos programas Light News (Rádio Transamérica Light) e Caldo de Cultura (UFPR TV) fala sobre como pode ser interpretada a violência dentro de uma produção cinematográfica. "A violência pode ser sutil, pode ser explícita, pode ser exagerada. Mas será sempre violência. Ela faz parte de nossas vidas. Dependendo do diretor e da história que está sendo contada, todas essas "formas" de violência são válidas, desde que contribuam para a história. O que não é aceitável é a violência pela violência. Sem contexto algum. Gratuita" completa. Sobre a violência exposta em "Django Livre", Marden apresenta uma opinião bastante parecida com a de Tarantino. "Achei o tratamento dado ao tema bem de acordo com o que está escrito nos livros de história. Ou alguém acha que era diferente. Além do mais, o grande herói do filme é um ex-escravo que mata brancos e passa a ser pago por isso. Quer vingança melhor do que essa?". Para o blogueiro, a violência exposta nas obras do diretor possuem explicação e se sustenta de forma aceitável. "A violência nos filmes do Tarantino é muito plástica. Ela beira o exagero e por isso mesmo, eu não a veja como tão violenta assim." finaliza.  E é nesse quesito que o diretor se destaca, dando um olhar diferenciado e fazendo com que esse recurso, tão polêmico, seja valorizado graças a forma como as filmagens são conduzidas, lembrando videoclipes em alguns pontos e abusando dos planos e cortes, se unindo a roteiros carregados de ironia, frases de efeito e que humanizam personagens considerados violentos, como o Coronel Hanz Landa, de "Bastardos Inglórios (2009)".

Para Rosana de Lacerda, psicóloga com mais de 30 anos de carreira, a questão da violência relacionada a sua exposição cinematográfica encontra um problema quando chega a percepção de pessoas, geralmente mais jovens, que já possuem dificuldades de convivência. "As pessoas mais agressivas se originam de um meio familiar violento e muitas vezes apresentam transtornos mentais. A exposição destas pessoas a filmes ou tragédias da mídia pode influenciá-los e gerar uma crise agressiva." completa. É importante então que a vida familiar do jovem seja conduzida de forma responsável e seu desenvolvimento mental seja adequado, fazendo com que ele não possua a vulnerabilidade de se deixar levar por uma obra fictícia. Em relação aos filmes, como finaliza Marden, apesar do recurso da violência, a mensagem a ser transmitida é que o deve ser analisada. "Não tenho nada contra filmes violentos. Desde que eles tenham algo a dizer. Tanto "Django Livre" como "Clube da Luta (1999)" por exemplo, possuem essa característica." 



Produção: Expressio Motus Produções
Texto: Marcos Garcia
Edição: Leticia Duarte e Rafaela Bez
Revisão: Karen Okuyama e Harianna Stukio
Fotos: Divulgação

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