1 de junho de 2013

Humor: origem do gênero, sua evolução e o uso politicamente correto

Gênero cinematográfico que surgiu junto a criação do cinema no fim do século XVIII, a comédia cinematográfica é, ao lado do drama, um dos mais importantes gêneros desta arte até os dias de hoje. O primeiro filme cômico, caracterizado pela utilização de brincadeiras e piadas, tanto verbais como visuais, foi a obra dos irmãos Lumiere "O Regador Regado" (1896), produzido com a ideia de divertir e fazer os telespectadores rirem através de imagens, já que o som ainda não era utilizado pelos cineastas da época. As sequências de cena eram sempre construídas abusando de perseguições, quedas, golpes e lutas físicas, além de situações embaraçosas. 


Influenciada pelo Vaudeville (gênero americano de entretenimento criado neste mesmo período) e pelo circo, o cinema mudo teve grande desenvolvimento no período entre a obra pioneira dos Irmãos Lumiere e o surgimento de Charles Chaplin, na primeira parte da década de 20. É neste momento que o cinema pastelão norte-americano é introduzido e, aos poucos, se desenvolve para uma construção mais lírica de personagens, característica marcante de Chaplin. O ator trabalhou na mesma época com 3 grandes nomes do cinema cômico (Harold Lloyd, Buster Keaton e Harry Langdon), que ajudaram a deixar a produção das comédias mais profissionais e criaram novos estilos de roteiro para os artistas. 

Sacha Baron Cohen como o Ditador (2012)
Com o surgimento do som junto as produções cinematográficas, poucos representantes do cinema mudo sobreviveram no mercado. Chaplin fez grande sucesso com o Grande Ditador, já na década de 40, mas após esta obra, sua receptividade já não foi mais a mesma aos longo dos anos. Com as mudanças que vinham acontecendo no mundo pós-guerra, o cinema de comédia também se modificou a partir dos anos 60. Enquanto o cinema americano experimentava a mistura de gêneros como o terror e o drama, relacionados ao humor, no Brasil as chanchadas e a inocência do homem do campo eram representados através deste gênero, o que ajudou a moldar o estilo de humor que se tem até o dia de hoje no país. Nos anos 80, com a glamourização das estrelas de Hollywood e os recursos de efeitos especiais, o humor se juntou também à ação, situação bastante clara em obras como "Um Tira da Pesada" (1984). Clássicos como "Curtindo a Vida Adoidado" (1986) abririam portas para a comédia focada na rotina no jovem de classe média americano, estilo que seria repetido na década de 90 e no início dos anos 2000, impulsionado pela popular franquia "American Pie" (1999). Os temas tratavam então cada vez mais dos questionamentos da juventude em escala mundial, abortando situações relacionadas a relações sexuais e uso de bebidas alcoólicas e drogas. 

A nova cara do humor dos anos 2000, também fez uso desse recurso, mas trouxe à tona uma discussão mais polêmica não só sobre as escolhas pessoais de cada indivíduo deste século, mas também criticando e forçando o debate dos espectadores em relação a temas polêmicos como política, direitos civis e religião. Influenciados pelo humor da televisão americana, nomes como Judd Apatow e mais recentemente Seth McFarlane (criador da série de sucesso "Family Guy", que usa o recurso do humor negro em sua composição) vem trazendo para as produções hollywoodianas uma visão diferenciada das relações sentimentais entre os seres humanos, indo contra as comédias românticas e mostrando que não há como ser um cidadão perfeito. A animação também sempre utilizou o recurso do humor em suas histórias e vem se desenvolvendo de forma mais madura nos últimos anos, deixando de ser uma exclusividade do público infantil.

Não há como falar do cinema de humor atual e relacioná-lo ao politicamente incorreto sem citar o grande nome do estilo, o britânico Sacha Baron Cohen. Formado em História pelo Universidade de Cambridge, Sacha construiu sua linha de pesquisa na faculdade baseada nas raízes dos preconceitos do mundo contemporâneo, assunto amplamente abordado em suas produções. Filmes como "Borat" (2007) , "Bruno" (2009) e "O Ditador" (2012) possuem uma roteirização focada em preconceitos e sátiras a forma como os americanos acompanham o resto do mundo. Além deste público, o ator também critica o consumismo desenfreado da sociedade contemporânea e aborda situações como a Xenofobia e o Homossexualismo, para abrir espaço para este tipo de discussão através do cinema.

Sobre os limites do humor no cinema e a forma como ele deve ser abordado, Sacha concedeu entrevista ao Jornal Zero Hora em 2012 e comentou o assunto. "O importante é deixar claro que se está pregando a liberdade. Vivemos em um mundo com medo, todo mundo teme sair às ruas, interagir com as pessoas. O humor tem de refletir este medo. É claro que há algo de respeitoso que deve se manter, mas quando é necessário para provocar discussões sobre este estado de medo que está impregnado em todos nós, sobre este jeito de viver na contemporaneidade, com tantas invasões no âmbito pessoal, aí se pode ir além." finalizou. 

Fica bem clara através desta evolução do gênero apresentada aqui, que o humor, independente do seu foco, sempre terá o poder de entreter um grande número de pessoas. Forçar uma discussão mais ampla em relação a assuntos que algumas vezes são preteridos e o mais importante de tudo: fazer os fãs de cinema rirem.




Produção: Expressio Motus Produções
Texto: Marcos Vinicius Garcia
Edição: Rafaela Bez
Imagens: Divulgação

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